terça-feira, dezembro 2

Excerto Livro - Parte I

...ainda hoje ele guarda a mensagem, transcrita em algo tão fútil como um telemóvel, o que lhe comunicou a maior perda da sua vida. Ainda se lembra de a ter lido numa manha tão rotineira como as outras; algo que arruinou a sua existência para sempre, algo que nesse terminou a sua metamorfose, já não era um belo anjo, mas sim um perfeito vazio.
-Fosse a mentira capaz de penetrar na minha vida por mil brechas que não tuas, se tu hoje partes daqui, eu irei contigo! Leva o meu coração em ti meu anjo, pois nunca o darei a mais ninguém, ele foi teu antes, será teu sempre, ninguém mais precisará dele, ninguém necessita mais do meu carinho, do meu amor, da minha paixão, essas palavras vão na mesma caixa que o meu coração, juntamente com os restantes mais belos adjectivos; esses a ti te pertencem, dou-tos com o mais alegre sorriso na face, o ultimo verdadeiro sorriso. Que o amor morra contigo, não precisarei dele se não o poder oferecer a ti, Sónia! Protege o meu ser, eu trato de zelar por o que cá fica, a triste saudade de não saber mais o que é ter algo que sempre foi mais que a água e o sol. Morro da estúpida e fraca vontade de morrer, mas a estupidez é hoje uma fraca parte de mim - disse ele, deixando a caixa negra aos pés da pedra tumular - Tal como a pedra gélida que forra as paredes desta tua nova casa, também o meu peito se forrou, caso algum dia queiras lá voltar a viver.
Nunca ele pensou que a sua última lágrima fosse tão encarnada como sangue, tão pesada e negra como se todas as suas veias e artérias chorassem tão grande perda. Fecharam-se as portas do cemitério e foi decerto a última vez que ele lá foi visto, a ultima vez que ele a viu, foi a morte de dois seres na mais bela e triste sinfonia; o amor perdido...

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