sexta-feira, dezembro 12

"Está a chover" - serás tu a chorar por me veres e não poderes tocar? Serei eu a chorar por não te ver nem te poder tocar? Será apenas a chuva?
Será que não é hoje que entendo finalmente que o sempre nunca existiu? Não! Não pode ser, tu exististe, não foi um sonho, lembro-me da tua voz, lembro-me das promessas, lembro-me de... não! Não me quero lembrar disso! Gostava de poder esquecer, mas tanto tempo passou e quase tudo continua igual, a chuva de que te falei na ultima noite é tão fria como a de hoje, o vento é tão gélido como o de hoje, só o teu calor não é tão quente, aliás, o meu corpo é cortado por este gelo que me envolve. Nem a memória da tua voz me protege. Viver de memórias, é a isto que estou destinado?
Sim, amanhã vou acordar, e ver que tudo foi um sonho, que ainda estou a dormir junto a ti. Ou vou acordar outra vez sozinho, com menos um dia de vida, desperdiçado a tentar acordar do pesadelo em que estou, tudo o que resta de ontem.

Dia esquecido de mês perdido de 2009

Olá mais uma vez, penso que já deves de estar farta de receber cartas minhas, eu não me canso de as escrever, e possivelmente tu deves gostar de as ler, sou o teu maior admirador, disso não tenhas duvidas; se algo me intriga na vida decerto que és tu, mas isso já to disse na primeira carta e direi também na última, se bem que tu queres ler para todo o sempre o que eu te escrevo.
Iremos ter de ser os últimos a existir? Continuar a dar-te todos os dias isto com que tu te alimentas? Sinceramente não entendo, porque é que eu ainda não fui escolhido? Terei algo errado?
Acho que tu gostas de me ver sofrer, aposto até que amas que alguém goste de ti e te ache fascinante, mas ao menos deixa-te de rodeios, leva-me para perto de ti, leva-me para perto dela, custa assim tanto? Para ti é como estalar os dedos; estala-me já o pescoço! Por favor! Peço-te com todas as forças que tenho, que parecem não se esgotar, eu não quero ser o último!
Sim acho que agora te ris-te, por eu dar tanta ênfase as frases quando tu estas por cima do meu ombro a ver as lágrimas a cair no papel, a ver o ódio emergir do meu ser, a ver a aura negra que tu usas para viver. Usa-me em morte, pois em vida já não tenho nada a dar. Anda lá, só peço hoje o mesmo, com mais vontade que ontem e muito menos que amanha, só tu fazes sentido.

Após 4 anos de cartas, espero também hoje outra resposta minha bela amiga, morte...

terça-feira, dezembro 2

Excerto Livro - Parte I

...ainda hoje ele guarda a mensagem, transcrita em algo tão fútil como um telemóvel, o que lhe comunicou a maior perda da sua vida. Ainda se lembra de a ter lido numa manha tão rotineira como as outras; algo que arruinou a sua existência para sempre, algo que nesse terminou a sua metamorfose, já não era um belo anjo, mas sim um perfeito vazio.
-Fosse a mentira capaz de penetrar na minha vida por mil brechas que não tuas, se tu hoje partes daqui, eu irei contigo! Leva o meu coração em ti meu anjo, pois nunca o darei a mais ninguém, ele foi teu antes, será teu sempre, ninguém mais precisará dele, ninguém necessita mais do meu carinho, do meu amor, da minha paixão, essas palavras vão na mesma caixa que o meu coração, juntamente com os restantes mais belos adjectivos; esses a ti te pertencem, dou-tos com o mais alegre sorriso na face, o ultimo verdadeiro sorriso. Que o amor morra contigo, não precisarei dele se não o poder oferecer a ti, Sónia! Protege o meu ser, eu trato de zelar por o que cá fica, a triste saudade de não saber mais o que é ter algo que sempre foi mais que a água e o sol. Morro da estúpida e fraca vontade de morrer, mas a estupidez é hoje uma fraca parte de mim - disse ele, deixando a caixa negra aos pés da pedra tumular - Tal como a pedra gélida que forra as paredes desta tua nova casa, também o meu peito se forrou, caso algum dia queiras lá voltar a viver.
Nunca ele pensou que a sua última lágrima fosse tão encarnada como sangue, tão pesada e negra como se todas as suas veias e artérias chorassem tão grande perda. Fecharam-se as portas do cemitério e foi decerto a última vez que ele lá foi visto, a ultima vez que ele a viu, foi a morte de dois seres na mais bela e triste sinfonia; o amor perdido...

Ilha

Num mundo em ruínas, onde a loucura dominou a mente dos inconscientes e inocentes mortais, um último Homem vive sozinho, na berma da sua ilha flutuante. O seu nome? Pouco interessa, pois sendo ele o único a poder pronunciar qualquer palavra no que outrora foi uma sociedade de biliões; almas singulares que formaram um todo chamado humanidade.
Ele ainda se lembra. Tudo começou quando uns tentaram ser maiores que outros, quanto mais subiram, mais no profundo caíram; o principio da destruição do Homem, o ser que com o poder das suas mãos fez tudo cair na escuridão, o mundo antigo como agora é conhecido sem ter ninguém para o conhecer. O único que restou foi este ser sem nome; tão engraçado como em minutos centenas de línguas passam a uma apenas, centenas de governantes deram mão dos seus impérios a um simples e mero mortal que outrora foi um em biliões, cujas faces escuras e vultos negros, passeavam por entre paredes de betão que hoje não passam de ruínas.
E continua hoje; rei do seu próprio mundo, na sua ilha flutuante que vagueia por entre as nuvens e acima dos mares, em busca de alguém que tenha o trágico destino de pensar que é o único ser de uma espécie que se consumiu a si própria.
E lá vai, rumo ao horizonte, onde o sol se põe mais uma vez. Será que após tantos anos em busca da solidão, o gosto da mesma é assim tão bom?

Vazio (10 meses depois)

Insensível. A palavra que define a falta do sentimento, emoção, vontade de sentir o toque das sensações que emergem pelo nosso ser, após um amo-te sentido ou um choro de felicidade. Sensível, o que se considera como o elo fraco, aquele que é afectado por emoções, como um soldado baleado num campo de batalha, uma bala que rompe a sua pele de emoções e se aloja no seu coração para nunca mais sair, acabando por o romper até ao último grão de cinza.
Considero-me hoje, nada, um insensível escondido por detrás de um muro de pedra e gelo, a janela da ilusão, a porta das trevas. Todos em minha volta são como sombras para um colosso, meros vultos que emergem e me fazem olhar para nada ver, sou completamente cego a eles.
Todo o colosso teve um fim, este traçado por palavras emocionadas, quentes, frias, amargas, doces, com um toque e sabor de uma infinidade de sentimentos, transmitidos pelo nada que é tudo, pelas trevas que são luz, pelo coração que não existe.

Fim do Princípio

No princípio foste apenas tu, do Passado ao Futuro com consciência que eu te sentia, Presente.
Princípios de dias, semanas, meses; anos, em que o constante tick-tack do relógio e o rasgar das páginas do calendário, tornara claro o que realmente se avizinhara. O fim deste princípio, um princípio que nunca o chegou a ser, pois, de facto, temos de dar inicio a algo, algo que tenha um principio meio e fim. Isto foi apenas um fim; o fim de algo que nunca teve início.
Espero agora! Espero que um dia esta sensação de vazio desapareça, um enorme vazio rompido com o silêncio das tuas palavras; do teu abraço, que sempre me tocou como o sol toca o teu rosto pela manha, tornando claro que sim! Um dia este princípio não terá um fim!