sábado, abril 25

Gotas de sangue caem de olhos cegos, o rosto não sente este rio de dor a descer por si, a boca não sente o ácido sabor, a folha arde ao ser tocada pelo toque seco e sem alma das minhas lágrimas.
Sentado no vazio do meu quarto, acompanhado por uma cadeira, a minha secretária, uma folha e uma janela que aponta para a escuridão da noite, escrevo em linhas de sangue em que cada traço é parte de ti, o meu sangue é teu. O negro vermelho em que o texto se constrói faz-me lembrar o céu pingado com brilhos sem alma de lágrimas vazias de emoção, estrelas que brilham falsamente num céu escuro e cheio cheio de mentira.
Faço minhas as tuas palavras, pois agora não as tens. Faço do meu sangue a tua voz. Faço da minha vida os teus olhos. A escuridão abate-se no meu colo, toda a falsidade escrita no céu se apaga, e todo o ódio nesta folha se acende, as chamas correm todas as frases e parágrafos, terminam todas as perguntas, todas as afirmações, todas as pausas. Percebi em meio segundo de morte o que nunca entendi em tantos anos de vida.

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